Inspiradas nas linhas orgânicas das pinturas das porcelanas chinesas, as cerâmicas florais da Turquia ganharam prestígio durante o Império Otomano, entre os séculos XV e XVII. Os clássicos desenhos florais que estampam objetos decorativos e azulejos históricos de Iznik converteram as cerâmicas artesanais turcas em autênticas relíquias da arte islâmica, que até hoje motivam modernos aparelhos de jantar.
Centrados em motivos (motifs), ou seja, na combinação de flores, folhas, formas ornamentais e geométricas, os padrões da cerâmica turca são desenvolvidos em simetria e quando concêntricos formam elaboradas mandalas. As pinturas artísticas elegantes colorem pratos, tigelas, petisqueiras, porta-copos e descansos de panela exibindo a riqueza da cultura turca na decoração de mesa.
Iznik pottery: dos azulejos decorados aos utensílios domésticos
A cerâmica turca Iznik é inspirada na alta qualidade da porcelana chinesa.
Localizada na província de Bursa, região noroeste da Turquia, Iznik (histórica Nicéia), se tornou um importante centro cultural turco com destacada produção de cerâmica decorada durante o século IX.
O estilo distinto das artes decorativas, dos utensílios de mesa e dos azulejos decorados de palácios, mesquitas, mausoléus, entre outros, expressavam não só o luxo do sultanato otomano, mas também a grandeza e a relevância da arte turca apesar das influências dos antigos domínios como gregos, romanos, bizantinos, seljúcidas.
Seus estilos artísticos foram assimilados em diferentes tipos de arte, contudo não impediram Iznik de brilhar por conta própria. As produções que exibiam a excelência técnica turca, alcançada pela junção da alta qualidade e da estética refinada – tanto das pinturas quanto da própria cerâmica em relevo – eram chamadas de chini, em referência à excelência da arte chinesa em cerâmica.
Tipos de pintura floral na cerâmica turca
O motivo floral Hatayi é o mais comum nos objetos utilitários e aparelhos de jantar.
Com estética própria bem definida, a ilustração otomana em composição floral presente nas cerâmicas artesanais Iznik varia em três motivos básicos: Rumi, Minhani e Hatayi. O primeiro, Rumi, é o mais frequente nas pinturas das louças e integra padrões florais à elementos ornamentais como os arabescos. É um motivo orgânico extremamente detalhado e privilegia a simetria nas superfícies seguindo o formato de rapport, em repetição “espelhada”.
O Munhani, por sua vez, é uma herança seljúcida. Ele constitui padrões que conectam flores e formas geométricas, sobretudo as concêntricas lembrando a estética de mandala. Já o Hatayi, o mais relevante em aparelhos de jantar, exprime sua personalidade ao coordenar florais grandes e estilizados entre figuras e representações.
As cores, as formas e a composição do estilo deste Iznik motif tem inspiração chinesa. E é especialmente encontrado na decoração de pratos, os elevando ao status de obra de arte ao mesmo tempo que os converte em alternativas elegantes para o gallery wall.
Flores e representações na arte islâmica de Iznik
Cravos, tulipas e jacintos são as Iznik flowers mais representadas nas cerâmicas turcas.
Os desenhos florais se destacaram no século XV exibindo elegância mesmo em seu aspecto mais simples, visto que a imponência é uma característica intrínseca à arte islâmica de cerâmica policromada. Eles têm folhas alongadas, rosas abertas e em botões, tulipas, narcisos, cravos, camomila, jacintos, lírios, alcachofras, romãs, videiras e ciprestes como os principais elementos naturalistas.
Alguns motivos simbólicos como nuvens são inseridos de diferentes maneiras nos padrões para conectar ou limitar cores e desenhos na composição, assim como dar início a galhos e hastes de flores, tirar o desenho da monotonia ou criar harmonia. Quando onduladas e alongadas, similar às folhas, são chamadas de çintamani e, geralmente acompanham um conjunto de três pontos, o timuçin, símbolo de poder.
Outro detalhe com representação simbólica é o crochê, uma espécie de arabesco ou ornamentação que atua como elemento auxiliar, complementando o desenho com equilíbrio e promovendo mais delicadeza.
Iznik motif em objetos decorativos modernos
Os desenhos florais das cerâmicas decoradas da Turquia são inspirados no estilo de Kara Memi.
As cerâmicas turcas modernas são influenciadas pela linha artística de Kara Memi desenvolvida no sultanato de Solimão I e motivada pelos jardins otomanos do século XIV – considerados espaços para a espiritualidade e intelecto. O estilo é denominado Quatre Fleurs, uma vez que tem quatro flores protagonistas: tulipa, cravo, jacinto e rosa.
Cada flor imprime um significado especial na cerâmica decorada além de ser um exímio ponto focal para a parede. Tulipas, por exemplo, são amuletos e símbolos místicos; enquanto cravos demonstram poder e renovação. Jacintos simbolizam generosidade e sugerem recompensa; já rosas evidenciam a manifestação divina.
Essas pinturas florais que enriquecem pratos, bowls, porta-petiscos, suportes de copo e panela mantém o conceituado padrão simétrico com paleta de cores intensa, inspirada em pedras preciosas como azul safira, verde esmeralda e vermelho rubi.
O valor da arte turca no home decor
Os florais turcos otomanos transcendem o ideal decorativo e mostram o valor de uma arte cultural.
Através da cerâmica decorativa os artesãos turcos enaltecem o valor cultural que a arte floral islâmica representa. Afinal, a presença das flores nos mais variados objetos de cerâmica transcende o ideal decorativo atribuindo-lhe um entendimento especial conectado com as crenças espirituais. Sendo a simetria advinda da noção de equilíbrio cósmico (mizan) manifesta no Alcorão.
A função das peças como objetos utilitários ganha protagonismo por meio das narrativas que envolvem cada desenho, demonstrando a grandeza e a complexidade dos florais turcos para a história do país. Eles agregam estilo no home decor, sobretudo na decoração de parede, e são facilmente colecionáveis.
Os aparelhos de jantar da Turquia têm essa essência valiosa e transformam as mais simples recepções em verdadeiras exposições de arte. A profusão de cores das louças é revelada conforme a refeição é consumida, tirando a monotonia do momento para mostrar que a legítima beleza otomana é revelada nos detalhes.
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Namastê!
Milene Sousa – Arte & Sintonia
