Assim como uma importante forma de conexão entre diversas culturas no mundo, o café foi o elo entre produtores, exportadores, compradores, torrefadores, cafeterias e baristas responsáveis por todo o processo do grão até a xícara durante a 7ª edição da Semana Internacional do Café (SIC). O evento que ocorre anualmente foi realizado nos dias 20, 21 e 22 de novembro de 2019 no Expominas, em Belo Horizonte, e contou 220 expositores e representantes de mais de 40 países.
Embora ainda seja novo - com cerca de 20 anos se comparado aos mais de 2 mil da planta no mundo - o mercado de café especial, com total valorização do produtor, dos processos de beneficiamento e extração, tornou a SIC o principal encontro de toda a cadeia cafeeira, mostrando a força da conexão entre conhecimentos, tecnologias, métodos, ideias e pessoas.
Em cada uma das 80 mil xícaras de café servidas durante os 3 dias da feira ficou nítida a percepção de que as histórias por trás da bebida também importam e que o artesanal é o novo luxo. Esse entendimento estabelece uma relação com as artes decorativas que comercializamos, não só pela trajetória da planta pelo mundo, que coloca a Indonésia como grande produtora, mas também pelo conceito de bem-estar que provoca um produto cujo valor começa no plantio de qualidade e não quantidade.
Os processos de produção livres de agrotóxicos, as cerejas do café colhidas seletivamente à mão, a remuneração justa aos produtores, a valorização sensorial e físico-química do grão com torra e métodos de extração precisos são alguns detalhes que tornam o café especial um produto enriquecedor.
Valorização do produtor de café e desenvolvimento econômico do país
Obter pontuação acima de 80 em uma escala de 100 para entregar o equilíbrio perfeito de acidez, doçura e corpo na bebida é o grande desafio do produtor de café especial entre as principais modalidades: arábica e canéfora. As variáveis naturais que desafiaram a produção a nível nacional em 2019 não desmotivaram os pequenos e grandes produtores, incluindo indígenas, a enviarem 500 amostras de café para concorrer ao título de melhor do ano no concurso Coffee of The Year (COY) realizado na SIC.
Enquanto o sítio Recanto dos Tucanos de Willians Valério (Alto Caparaó - MG), foi condecorado com o título de Melhor Café Arábica com 88 pontos, o sítio Grãos de Ouro de Luiz Cláudio de Souza (Muqui - ES) recebeu o título de Melhor Café Canéfora com 86 pontos. Os 23 mil visitantes da SIC puderam acompanhar as etapas de votação nos 3 dias de evento e aplaudir os finalistas de pé na cerimônia de premiação do COY 2019.
O recorde de amostras enviadas e a qualidade demonstraram que a base do desenvolvimento econômico do setor está na valorização de quem planta. Não obstante, a Conab (Companhia Nacional de Abastecimento) estima que o Brasil feche o ano com 48,9 milhões de sacas.
Plantio, colheita, processamento, beneficiamento e torra!
O café cru, já processado e beneficiado, é completamente transformado com a torrefação artesanal. É ela que exalta as características do grão como aromas e sabores e preserva a acidez natural através de perfis de torra ajustados por tempo e temperatura. É um dos processos mais delicados exigindo técnica e controle de qualidade para manter a homogeneidade dos grãos, principalmente em blends.
Executar um processo tão complexo também é digno de valorização, assim, o profissional torrefador teve destaque em alguns dos mais de 40 eventos simultâneos que ocorreram na feira como Torra Experience e Campeonato de Torra (International Coffee Roast Master Championship - Brazil 2019). Neles trocaram conhecimentos de como definir diferentes perfis sensoriais com o mesmo café, como rever os conceitos de cor dos perfis e como compreender suas variáveis.
Bom, já deu para perceber que, além de inúmeros processos, muitas mãos fizeram o café em grão, em cápsula ou solúvel chegar até a sua xícara! E essa é a maior riqueza da bebida!
De onde vem meu café? Pergunte ao barista!
A Semana Internacional do Café de 2019 não ocorreu apenas em torno de negócios, cursos, palestras e degustações, mas também de competições em arenas montadas entre os expositores para apresentar baristas profissionais que despontam no cenário: os campeonatos brasileiros de barismo. No Campeonato Nacional de Prova de Café (Cup Tasters), cujo desafio era distinguir as xícaras que apresentavam diferenças sensoriais em menor tempo, o degustador Phelippe Nascimento se consagrou em primeiro lugar.
Já no Campeonato Nacional de Preparo de Café (Brewers Cup), em que o barista precisa combinar oratória, técnica e habilidade para extrair três coados com bebidas idênticas, Júlia Fortini representou as mulheres como a campeã. O Campeonato Nacional de Barista de 2019, por sua vez, cujo profissional precisa contar a história e as particularidades do grão enquanto prepara 12 bebidas (4 expressos, 4 com leite e 4 de assinatura) em 15 minutos, elegeu Leonardo Moço o vencedor.
Estes dois últimos campeonatos tornam nítido como o barista é responsável por transmitir para o consumidor todas as histórias que envolvem o grão de café especial até a xícara, bem como suas notas sensoriais, seus aromas e características potencializadas pelo perfil de torra e método de extração.
Produtos artesanais movimentam o mercado
A nova percepção de valor do artesanal tem movimentado o mercado nacional e torna mais que evidente a expansão do café especial durante a SIC 2019. Entre negócios fechados, cafés, maquinários e acessórios de cafeterias vendidos com preços acima do mercado estima-se que foram iniciadas no evento comercializações que beiram 50 milhões.
Esse reconhecimento fez não só a feira ser a mais bem sucedida dentre as edições anteriores (considerando o atual cenário), mas também todos os envolvidos na cadeia cafeeira - do mercado de exportação à importação, expositores, indústrias, cooperativas e produtores.
Os espaços da Semana Internacional do Café foram pensados para atender a todos do setor como mostra a presença do Pátio do Produtor com maquinários e implementos agrícolas; a área Cafeteria Modelo dedicada ao empreendedorismo; os espaços para workshops e cursos de aperfeiçoamento de profissionais; e a exposição de embalagens do concurso Espresso Design visando a valorização da apresentação do produto nas prateleiras.
O artesanal celebra o tempo, a história e a sustentabilidade
O café é uma das principais commodities brasileiras - mercadoria produzida em larga escala que atua como matéria-prima para as indústrias - sendo o país o maior produtor do grão no mundo. E um dos desafios das grandes corporações é unir a sustentabilidade, a responsabilidade social e a qualidade presentes no manejo dos produtos artesanais.
Contudo, ao preencherem juntos os espaços da SIC 2019 demonstraram que há diálogo entre os dois nichos de mercado de café, havendo preocupação em agregar valor e exaltar o campo, a origem do café.
E se resta alguma dúvida de que o conceito “o artesanal é o novo luxo” está em tudo e que é cada vez mais necessário compreender a origem daquilo que consumimos basta acessar a nossa loja online e identificar a riqueza cultural e artística que estará diante de seus olhos.
Namastê!
Milene Sousa - Arte & Sintonia
