A pintura, uma das mais genuínas formas de expressões artísticas, se vale de elementos de linguagem como linhas, formas, cores e texturas para preencher as superfícies e criar narrativas que despertam infinitas emoções à partir da qualidade estética que apresentam. Através do estilo de pintura o interior do pintor artístico se manifesta e convida o espectador a abrir o seu repertório cultural para novas sensações. E pode-se dizer que este encontro só é possível após o grande despertar do artista para a própria arte e todos os processos que vêm dele, como fez Matheus Pereira.
Observar e sentir na mesma medida são grandezas que o artista brasileiro, radicado em Búzios, carrega em sua natureza. A destreza para a pintura em tela vem da observação do trabalho do pai, também artista, e da vivência da arte através do desenho e da pintura com lápis de cor. Ao experimentar na tinta as técnicas desenvolvidas nos lápis um verdadeiro artista tomou forma e ganhou espaço para traçar uma trajetória sensível que está só no começo.
Diversidade cultural: um olhar para a beleza das etnias
Matheus explora na tinta a experiência do lápis de cor e o apresso pela arte herdada do pai.
Do lápis para a tinta a óleo, do papel para a madeira e a tela; e com pouco mais de dois anos de experimentações o amadurecimento de Matheus Pereira como artista se tornou nítido em cada nova face pintada, cuja alma de toda uma etnia foi revelada à partir do olhar. A obra “Guerreiro Kayapó” foi o início de uma coleção de pinturas expressivas como a tela “Curumim Kayapó” e “Caiçara”, ambas disponíveis em nossa loja online, que levou o pintor artístico a sua primeira exposição individual em Cabo Frio, significativamente intitulada “Raízes” (2019).
Apesar da representação de pessoas, a pintura de Matheus Pereira vai além do realismo e sua consequente ruptura da arte inteligível, uma vez que parte de uma esfera sensitiva ao compreender a beleza cultural existente na alma de quem é retratado e em seus “traços de diversidade” - como ele mesmo define. E ainda que a riqueza das etnias exploradas nas pinturas do artista buziano seja marcada pelas características culturais como acessórios, pinturas corporais e pelas próprias marcas do tempo na pele, é nos olhos que Matheus se conecta com a pintura em tela e se dedica a transmitir uma essência que é plural.
"Quero que as pessoas sintam que a obra está viva, que tem alma, que enxerguem a beleza da diferença."
O ambiente multicultural de Búzios formou o olhar do artista para a diversidade étnica.
O ambiente multicultural de Búzios em si já é uma fonte de inspiração e fez parte da formação do artista e de seu apreço para a beleza da diversidade étnica. A partir das experiências individuais e das histórias de gerações de sua própria família os rostos de diferentes etnias africanas e indígenas como Kayapó, Asurini, Suri, Yanomami, Surma, entre outros, vão se revelando nas telas em branco para mostrar com muitas cores onde Matheus encontra suas raízes criativas.
Ancestralidade: honrando a herança dos antepassados
As gerações de sua família ajudaram a construir um vínculo bonito com a ancestralidade.
A essência caiçara da família que habita a Armação de Búzios desde que era uma aldeia de pescadores, sendo este o ofício dos avós e bisavós de Matheus, é um ponto-chave para a entrega do artista que também se dedica ao retrato da ancestralidade. Junto à diversidade cultural, esta é uma das principais inspirações de suas obras de arte e de sua percepção ilimitada para as belezas genuínas do mundo. Para o artista, a alma do caiçara buziano abarca todos que ali já fizeram sua morada: negros, indígenas e/ou brancos.
E não é de se surpreender que em 2018, na Região dos Lagos do Rio de Janeiro, onde ainda resiste o Quilombo da Rasa - um dos mais antigos do país - tenha sido erguido um mastro com sua assinatura: a pintura de um retrato da condutora Dona Eva, em homenagem aos seus 108 anos durante a Festa de São João. O pintor leva a influência quilombola para a tela ao retratar a singularidade de diferentes tribos de origem africana.
"Somos a mistura de todos que já habitaram essas terras; negros, indígenas e brancos: somos caiçaras."
Nos olhos das pinturas em tela Matheus Pereira revela a essência de toda uma etnia.
A essência étnica e a ancestralidade das pinturas em tela mostram o vínculo entre elas na profundidade do primeiro detalhe que capta a atenção: o olhar e todas as emoções nele transmitidas. Todo este percurso utilizando a técnica tinta a óleo sobre tela trouxe uma bagagem enriquecedora para o artista que promete incluir em suas criações novos materiais como o carvão, além de abarcar inspirações de outros temas que têm apreço, como, por exemplo, a “arquitetura dos povos espalhados pelo mundo”.
Desde a primeira experiência com tinta Matheus se dedica a expressar a beleza da diferença.
Com olhos voltados para o futuro, Matheus Pereira também vislumbra o mundo e novos espaços para suas exposições, visto que duas delas já se materializam no imaginário e nas telas do artista, criadas sob o ritmo de um bom estímulo musical. Enquanto o tema “Brasilidade” reivindica o retrato da cultura brasileira, “Religiões” se propõe a expressar as particularidades das principais religiões do mundo, assim como as de matrizes africanas e indígenas praticadas no Brasil. Contudo, todas manifestam, sem reserva, a autêntica beleza e a reverência às identidades culturais que as pinceladas sensíveis de Matheus consegue alcançar.
Namastê!
Milene Sousa - Arte & Sintonia
